Hiroo Onoda, o soldado japonês que se escondeu na selva por quase 30 anos
Hiroo Onoda morreu tranquilamente em Tóquio aos 91
anos, no dia 17 de janeiro de 2014. Nada mais corriqueiro, a não ser que
este antigo soldado japonês viveu escondido na selva das Filipinas até
1974, pensando sempre que a Segunda Guerra Mundial ainda não tinha
acabado.
Durante quase 30 anos depois da
capitulação do império nipônico, este oficial dos serviços secretos,
especializado em técnicas de guerrilha, viveu escondido na ilha filipina
de Lubang, perto de Luzon. No coração da selva ele continuou a lutar
contra um inimigo que já não estava lá, contra os insetos, contra a
malária, tudo pelo Imperador, dando provas do incrível espírito de
sacrifício japonês e de uma obediência total, que faz lembrar o "obushido", o código de honra dos samurais.
Hiroo Onoda nasceu em 19 de março de 1922, em Kainan, Wakayama, na região central do Japão, sendo um dos sete filhos de Tanejiro e Tamae Onoda. Aos 17 anos ele foi trabalhar para uma empresa comercial em Wuhan, na China, ocupada pelas forças japonesa desde 1938. Em 1942 ele se juntou ao exército japonês, foi destacado para o treinamento especial e frequentou a Escola Nakano, centro de treinamento do Exército para oficiais de inteligência. Onoda estudou a táticas de guerrilha, filosofia, história, artes marciais, propaganda e operações encobertas.
Onoda tinha sido enviado para as Filipinas em 1944 com uma ordem formal: nunca se render e manter-se firme até à chegada de reforços. Juntamente com mais três soldados, obedeceu a estas instruções durante os anos que se seguiram ao fim do conflito, ignorando que os combates tinham terminado.
A existência destes quatro homens só
foi conhecida em 1950, quando um deles decidiu sair da floresta e
regressar ao Japão. Foi então possível largar por avião mensagens a
Onoda e aos outros dois homens que a guerra tinha terminado há muito
tempo e que Exército imperial tinha sido derrotado. Mas Onoda nunca
acreditou que isso fosse verdade e continuou com os seus dois
companheiros a vigiar instalações militares e, em certas ocasiões, a
atacar soldados filipinos.
Para Onoda, a
guerra não tinha terminado, o Império não podia ter sido derrotado! E
quando, os B-52 americanos sobrevoaram as selvas filipinas em direção ao
Vietnã, sua convicção de que os combates continuavam, cresceu ainda
mais.
Onoda
permaneceu por quase 30 anos escondido na selva, para sobreviver, ele
roubava arroz e bananas de moradores locais, e abatia vacas para obter
carne.
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Depois
da morte de um dos seus companheiros, as autoridades de Tóquio e de
Manila continuaram à procura dos dois homens que permaneciam na selva há
dez anos. Finalmente as buscas foram dadas como terminadas em 1959, já
que as autoridades dos dois países se convenceram de que os dois
soldados estavam mortos. Mas, em 1972, eles reaparecem para atacar
tropas filipinas. Onoda consegue fugir, mas o seu último companheiro é
morto.
Tóquio, capital do Japão democratizado e
em pleno desenvolvimento econômico, decide então enviar membros da
própria família de Onoda para o tentarem convencer a pôr fim aos
combates, mas em vão. Posteriormente, Onoda explicaria ter acreditado
que seus parentes tinham sido enviados por um regime-fantoche instalado
pelos Estados Unidos em Tóquio.
Finalmente, foi preciso o seu ex-comandante embrenhar-se na selva para lhe ordenar que depusesse as armas e se rendesse. Em 1974, o governo do japonês encontrou o oficial comandante de Onoda, Major Yoshimi Taniguchi, que havia se tornado um livreiro. Taniguchi foi para Lubang e informou a Onoda da derrota do Japão na Segunda Guerra e ordenou-lhe a depor armas. Onoda saiu da selva 29 anos após o término da Segunda Guerra Mundial e aceitou a ordem do oficial comandante vestindo seu uniforme e espada, com seu rifle Arisaka 99 ainda em condições operacionais, com 500 cartuchos de munição e diversas granadas de mão, bem como a adaga que sua mãe havia lhe dado em 1944 para a proteção.
O governo filipino concedeu-lhe o perdão, embora muitos em Lubang nunca o tenham perdoado pelas 30 pessoas que ele matou durante a sua campanha na ilha.
Finalmente, foi preciso o seu ex-comandante embrenhar-se na selva para lhe ordenar que depusesse as armas e se rendesse. Em 1974, o governo do japonês encontrou o oficial comandante de Onoda, Major Yoshimi Taniguchi, que havia se tornado um livreiro. Taniguchi foi para Lubang e informou a Onoda da derrota do Japão na Segunda Guerra e ordenou-lhe a depor armas. Onoda saiu da selva 29 anos após o término da Segunda Guerra Mundial e aceitou a ordem do oficial comandante vestindo seu uniforme e espada, com seu rifle Arisaka 99 ainda em condições operacionais, com 500 cartuchos de munição e diversas granadas de mão, bem como a adaga que sua mãe havia lhe dado em 1944 para a proteção.
O governo filipino concedeu-lhe o perdão, embora muitos em Lubang nunca o tenham perdoado pelas 30 pessoas que ele matou durante a sua campanha na ilha.
Onoda entrega sua espada ao presidente Ferdinand Marcos, em sinal de sua rendição, em 11 de março de 1974.
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Hiroo Onoda era o último de dezenas de soldados japoneses que, nos quatro cantos da Ásia, recusando acreditar na derrota, decidiram continuar a lutar em nome do imperador Hirohito, muito depois da capitulação anunciada por este último no dia 15 de Agosto de 1945. Ficaram conhecidos como "holdouts", “os loucos do Imperador”.
No
seu regresso ao Japão em 1974, Hiroo Onoda explicou que durante os 30
anos que tinha passado no coração da selva filipina, só tinha uma única
coisa em mente: “Executar as ordens”. Mas o Japão que Onoda encontrou já
não era o país que ele conhecia: triunfante, conquistador, imperial. O
Império tinha sido vencido, é certo, mas o país reconstruía-se a ritmo
acelerado. E, acima de tudo, o Japão era agora um país pacifista, com
uma Constituição made in USA em vigor desde 1947.
Hiroo
Onoda retornou ao Japão como um herói, embora ele e seus companheiros
tivessem matado cerca de 30 filipinos após o fim da Segunda Guerra
Mundial.
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Depois
de um período passado numa fazenda no Brasil, Onoda regressa ao Japão.
Em 1984, inaugura um campo de juventude onde ensina técnicas de
sobrevivência, como aquelas que o ajudaram a manter-se vivo durante 30
anos no inferno da selva.